O combate à pandemia de Coronavírus impôs a necessidade de distanciamento social e reforçou uma tendência observada há alguns anos: a digitalização dos serviços financeiros. Dados da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) mostram que, mesmo antes do chamado “novo normal”, a participação do Mobile Banking e do Internet Banking no total de transações bancárias vinha crescendo o percentual passou de 52%, em 2015, para 63% em 2019.
É razoável supor que, sem o desenvolvimento tecnológico experimentado nos últimos anos, o impacto econômico da pandemia teria sido maior. Os meios digitais foram um canal importante para a comercialização de bens e serviços e para distribuição de benefícios públicos, como o Auxílio Emergencial. Mas o mesmo progresso que facilita o cotidiano, reduz as filas, a papelada e gera inúmeras oportunidades também serve para a sofisticação da atuação criminosa. A inovação e a criatividade, em outras palavras, avançam nas duas pontas: tanto para o bem quanto para o mal. Num país ainda carente de educação financeira, e de educação em sentido mais amplo, a ação dos fraudadores torna-se ainda mais facilitada.
Tendo em vista a urgência e a importância do tema, a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e o Sebrae realizaram uma nova edição do estudo “Fraudes Financeiras no Brasil”. A pesquisa foi feita pela web e ouviu residentes de todas as capitais brasileiras, com idade igual ou maior que 18 anos, das classes A, B e C, e que foram vítimas de algum tipo de fraude financeira nos últimos 12 meses, seja em instituições financeiras, investimentos, e-commerce e comércio em geral, entre outras listadas no estudo.
CONSUMIDORES VÍTIMAS DE FRAUDES FINANCEIRAS
• 59% dos internautas sofreram algum tipo de fraude financeira no Brasil nos últimos 12 meses, o que representa aproximadamente 16,7milhões de brasileiros internautas.
• Este público tem idade média de 39 anos e vive em sua maior parte no Sudeste (52%). 51% das vítimas são mulheres, 49% são homens e 56% pertencem à classe C contra 44% na classe A/B.
• Boa parte das fraudes ocorre entre pessoas com renda entre 1 a 5 salários mínimos (acima de 60%) e com o Ensino Médio completo (54%).
• Considerando o ranking das fraudes investigadas, estão entre as 5 principais: não receber por um produto ou serviço que comprou (41%), aquisição de produtos ou serviços que veio diferente das informações especificadas pelo vendedor (41%), clonagem de cartão de crédito ou débito (24%). Cresce de 8% para 17% aqueles que se envolveram em golpes através de ligação, e-mail, SMS ou WhatsApp, e de 11% para 15% os que realizaram pagamento de falsa cobrança por meio de depósito, boleto falsificado ou adulterado.
Além de permitir a comparação do quadro atual com aquele traçado em 2019, o estudo traz novas evidências sobre o assunto. Constata-se, por exemplo, que o número de vítimas desses golpes nos últimos 12 meses cresceu, chegando a atingir 16,7 milhões de internautas brasileiros. A pesquisa mostra, ainda, um crescimento das abordagens de ligações e mensagens.
Perfil das vítimas de fraude
O perfil dos consumidores que foram vítimas de alguma fraude ao longo dos últimos 12 meses mostra que, no quesito de gênero, não há um alvo preferencial: 50,8% das vítimas são do sexo feminino e 49,2% são do sexo masculino. A idade média dos consumidores fraudados é de 39 anos, sendo que pouco mais da metade (51,5%) têm idade entre 25 e 44 anos, e 16,6% têm idade superior a 55 anos.
Os dados de renda mostram que 26,6% dos consumidores que sofreram algum tipo de golpe financeiro nos últimos 12 meses têm renda familiar entre 1 e 2 salários-mínimos e 19,1% têm renda familiar de 2 a 3 salários-mínimos. Distribuídos por classes sociais, 43,6% pertencem às classes A e B e 56,4% pertencem à classe C. A pesquisa também constata que, entre esses consumidores, o número médio de residentes por domicílio é de 3,1.
Com relação ao nível de escolaridade, mais da metade dos consumidores entrevistados (53,6%) têm ensino médio completo e cerca de um quarto (25,8%) completaram o ensino superior. Além desses, 7,6% cursaram até o ensino fundamental (I ou II) e 13% cursaram pós-graduação, mestrado, doutorado ou mais.
Por fim, o quadro regional mostra que 51,8% dos consumidores que sofreram fraude estão na região Sudeste; 24,6% estão na região Nordeste; 10,5% na região Centro-Oeste. Sul e Norte concentram, respectivamente, 7,4% e 5,7% desses consumidores.
Fraudes financeiras
De tempos em tempos, a sociedade é surpreendida com alertas sobre novos tipos de fraudes. Esse não é um mal apenas dos nossos dias. Um Decreto Lei de 19402 já estabelecia pena de reclusão a quem obtivesse vantagem ilícita, induzindo um terceiro ao erro. Se é verdade que as fraudes são uma prática antiga, também é verdade que o avanço tecnológico e a crescente conectividade do mundo abriram novas possibilidades para os fraudadores.
O problema não reconhece fronteiras. Estudo da empresa McAfee e do “Center of Strategic and International Studies” (CSIS)3 estimou em 0,8% do PIB mundial o custo dos crimes cibernéticos. Esse custo, de acordo com o relatório, vem sendo impulsionado pela adoção de novas tecnologias e, sobretudo, pela maior facilidade de monetização da atividade criminosa.