Um ato de crueldade. Assim o presidente da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputado Sargento Rodrigues (PDT), definiu a ameaça de despejo do Centro Infantil Sargento Marizeth Cardoso da Mata (Cism). A instituição funciona nas dependências da Academia da Polícia Militar, em Belo Horizonte, e foi visitada pela comissão.
A ordem de desocupação, que segundo o parlamentar teria sido dada pelo comandante-geral da PM, coronel Helbert Figueiró de Lourdes, ameaça deixar desamparadas 48 crianças com idades entre quatro meses e seis anos, a maioria filhos de praças da corporação, que não recebem auxílio-creche.
A visita foi um ato de apoio da comissão à luta de pais e mães das crianças atendidas, que não se conformam com o iminente fechamento da instituição, que funciona como creche e pré-escola.
Os deputados Sargento Rodrigues e Coronel Piccinini (PSB) foram recebidos em uma das seis salas da creche por pais e funcionários, que relataram, emocionados, a importância do trabalho desenvolvido pela entidade e o repúdio à decisão de desalojá-la.
Os problemas da creche começaram após a conclusão de um Relatório de Investigação Preliminar (RIP), instaurado no âmbito da Academia da PM, que concluiu pelo fim das atividades da creche em virtude da falta de documentação.
A defesa da creche foi apoiada pelo deputado Coronel Piccinini. “A base de tudo é o amor. O amor das crianças pelas professoras e por essa escola, e dos pais por seus filhos. É por amor a essa causa que vamos lutar pela manutenção da creche”, destacou.
Ainda segundo o parlamentar, em vez de ser fechado, o Cism deveria ser replicado para outros batalhões da PM e do Corpo de Bombeiros. “Se o comandante da PM viesse aqui conversar com os pais e mães, com as crianças e os funcionários, iria conhecer o excelente serviço prestado e ajudar na sua manutenção”, disse.
No centro da questão está uma Certidão Negativa de Débitos (CND), que ainda não havia sido emitida devido a uma dívida de cerca de R$ 300 mil, referente a INSS, FGTS e PIS. Esse problema já teria sido resolvido pela presidente e pelo vice da creche, respectivamente a capitã Aline Germanio de Souza Alonso e o sargento Geter Fernandes de Souza.
Por meio de empréstimos pessoais, eles conseguiram pagar uma entrada de R$ 63,3 mil da dívida e outras quatro parcelas de R$ 4 mil. Contudo, mesmo com a renegociação, a emissão da CND pode demorar até dois anos, segundo informações do sargento Geter.
A ordem de despejo foi emitida com a data final de 24 de outubro, mas foi postergada para o final de dezembro após recurso junto ao Comando-Geral da PM, decisão que pode ser revertida a qualquer momento. O problema é que, com futuro incerto, a creche já vem perdendo funcionários e alunos, preocupados de não ter onde trabalhar ou estudar no próximo ano.
Pedido de socorro
“Precisamos desesperadamente de ajuda. Nosso pedido nesse momento é de socorro para salvar essa instituição com 22 anos de história”, afirmou Bárbara Caroline de Souza, representante dos pais e funcionários e mãe de uma menina de um ano e nove meses matriculada ali. Ela entregou um ofício ao presidente da comissão com o pedido de intervenção da ALMG junto ao Poder Executivo.
Em meio às lágrimas, a professora Maíza Maria Ramos, que trabalha no local há 11 anos, disse que a manutenção da creche é uma questão de coerência com o que é ensinado às crianças. “Nós crescemos aprendendo que é preciso respeitar o próximo e ensinamos isso aos nossos filhos. Não podemos ser desrespeitados e jogados na rua simplesmente por causa de uma ordem de uma pessoa no comando”, criticou.
Mais fotos da ALMG/ Sarah Torres em álbum próprio neste site