Dona de casa já teve uma bezerra que gostava de assistir à televisão
PEDRO POPÓ - Jornalista
Parece uma dessas lendas que a gente escuta nas roças, mas não é. Se trata de um fato verdadeiro e que ocorre no distrito de Gameleira, em Estrela do Sul. Há quase um ano, uma mulher ganhou de presente uma porca caipira, dessas que a gente denomina de orelha de colher, e o carinho e a amizade entre ambas ficaram tão fortes que o animal dormia na cama de dona, quando era filhote.
A reportagem se dirigiu à casa da proprietária da porca, no distrito, no domingo, dia 24 de novembro de 2024, e a entrevistou. Muito atenciosa e gentil, ela deu a entrevista ao lado do animal que a todo momento se movia de um canto a outro como se estivesse com ciúme da presença do repórter. A matéria a seguir teve a autorização da entrevistada para ser divulgada na imprensa e redes sociais.
Em fevereiro passado, num de seus passeios pela região, dona Sônia Maria de Aguiar visitou um fazendeiro amigo e ganhou dele a porquinha. Ela a levou para casa e como o bichinho era recém-nascido foi preciso alimentá-lo à mamadeira. A porquinha apegou-se tanto à sua dona que à noite quando ela ia dormir, o bichinho a seguia até o quarto, subia na cama dela e adormecia até o dia raiar.
Dona Sônia batizou a porquinha de Fiona, em homenagem à princesa do mesmo nome do filme animado Sherek. Assim, todos os dias, Fiona lhe fazia companhia e lhe seguia para todos os lados. Como o bichinho cresceu e hoje pesa mais de 70 quilos, ele não dorme mais com a sua dona, mas fica deitada no alpendre da casa, vigilante a qualquer movimento e chegada de pessoas estranhas ao local.
“Já me ofereceram R$ 2.000,00 por ela”, diz a dona de casa, salientando que não vende o animal por dinheiro nenhum e nem adianta insistir. “Ela foi criada aqui comigo, livre, aqui dentro e me protege. Ela não deixa nenhum estranho se aproximar”, declara, acrescendo, inclusive, que todos os dias, quando o sol raia, Fiona vai no seu quarto acordá-la. “É porque é hora de comer e ela vai lá”, diz.
Dona Sônia conta que o fato de ela criar uma porca dentro de casa como um animal de estimação já lhe trouxe alguns perrengues. Recentemente, um fiscal compareceu à moradia, mas viu que o bicho é bem cuidado e foi embora. “Eu a deixo sempre muito limpa. Muito bem cuidada”, narra a proprietária, emendando que uma das coisas que Fiona mais gosta “é tomar um banho bem fresquinho”.
O amor que Dona Sônia tem por animais é antigo, desde quando ela morava em Catalão, depois na Represa de Emborcação e quando labutou de caseira em fazendas. Hoje, ela tem, além da porca, cinco cachorros, dois gansos, um gato, o Nininho, que mama em Fiona quando está com fome, e umas galinhas, todos convivendo em harmonia. Não se vê nem se escuta uma arrelia entre eles.
No entanto, não foi só Fiona que caiu no agrado de sua dona. Até uma bezerra que gostava de assistir à televisão, ganhou o encanto dela. Isso mesmo! Em 2004, a dona de casa foi presenteada com uma bezerrinha. Entre 2010 e 2011, já uma vaca erada, todos os dias, por volta das 8h da noite, o bicho entrava na sala, se deitava ao chão e ficava assistindo a novela Passione, da TV Globo.
Ao contrário de Fiona, que Dona Sônia não vende e nem troca, e que para não ter problemas, vai morar agora na roça até os últimos dias de sua vida, a bezerra não teve o mesmo privilégio. Depois de parir duas crias, foi vendida e nunca mais se teve notícia dela. “Eu também criei essa bezerra desde pequenininha. Dava leite pra ela na mamadeira. E a gente vai “panhando” amor, né”, enfatiza.
Dona Sônia é uma mulher feliz. Tem companheiro e filhos e é muito admirada e querida em Gameleira. Estudou até a quinta-série do antigo primário, já morou até em Uberlândia, mas gosta mesmo é da paz do interior. Há quatro anos, ela teve que amputar uma perna em razão de complicações de trombose e diabetes, mas nem isso a desanima e tira a sua alegria. É uma pessoa maravilhosa.