Aprendizado, cuidado, empatia, escuta, respeito, esperança, vínculo. Com essas palavras, os participantes da Escola de Convivência resumiram sua experiência com o curso promovido pela Defensoria Pública de Minas Gerais (DPMG). A formatura das 27 pessoas que concluíram a terceira edição da capacitação foi realizada nesta terça-feira (26/11), no auditório da Instituição, em Belo Horizonte.
A capacitação contou com 13 encontros semanais – Fotos: Marcelo Sant’Anna/DPMG
O curso tem o objetivo de auxiliar os cuidadores a serem mais acolhedores e protetivos com a criança ou adolescente, seja os que estão em cuidado com suas famílias, seja aqueles que estão em condição de institucionalização, para que possam retornar ao convívio familiar.
Ao todo foram realizados 13 encontros, durante três meses, onde os participantes tiveram contato com conteúdos teóricos e práticos, além de diversas dinâmicas.
Abertura
O potencial transformador e de acolhimento do Escola de Convivência foi observado pela defensora pública-geral Raquel Gomes de Sousa da Costa Dias na abertura da cerimônia.
“Atrás de toda criança que acredita em si mesmo, existe uma família que acreditou nela primeiro. Todos nós, que somos pais e mães, estamos longe da perfeição, todos nós erramos. Mas o que a gente precisa é ter o compromisso com a educação daquela vida. Ter a persistência, ter o cuidado, estar disposto ao filho e aprender. Como tudo na vida, também podemos aprender a ser uma mãe melhor, a ser um pai melhor”, disse.
“A Escola de Convivência tem o potencial de transformar e auxiliar a estruturar para que as famílias eduquem suas filhas e filhos para se prepararem a viver em sociedade”, destacou a defensora-geral.
Mesa de abertura da cerimônia: Maria Fernanda da Silva, representando a subsecretária de Assistência Social, Daniele Carmona; promotora de Justiça Matilde Fazendeiro Patente; coordenadora estratégica de Promoção e Defesa dos Direitos das Crianças e Adolescentes, defensora pública Daniele Bellettato; defensora pública-geral de Minas Gerais, Raquel Gomes de Sousa da Costa Dias; defensor público Heitor Baldez; coordenadora da DEDICA-Cível, defensora pública Eden Mattar; e Kely Cordeiro dos Santos, representando a coordenadora do Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes, Pollyanne Moura
Idealizadora da capacitação, a coordenadora estratégica de Promoção e Defesa dos Direitos das Crianças e Adolescentes, defensora pública Daniele Bellettato Nesrala, salientou a oportunidade de reflexão como um dos motivos do sucesso da Escola de Convivência.
“Na vida corrida que temos, mais ainda das famílias que chegam à Escola por conta de alguma vulnerabilidade e estão preocupadas com os problemas do dia a dia, com o almoço, o jantar, o aluguel, a matrícula da escola, a internet, ficamos sem tempo para refletir sobre o mais importante da nossa vida. A grande maioria das famílias que chegam ao acolhimento são pessoas que estão lutando pela guarda daquela criança e, muitas vezes, não compreendem o motivo do acolhimento, do afastamento, porque na sua visão a conduta delas é natural”, disse Daniele Bellettato.
A defensora pública observou que somente com a assistência jurídica não é possível ajudar muito as famílias e que é necessário ampará-las nos conflitos que estão por trás dos processos.
Bellettato Nesrala pontuou que a Escola de Convivência iniciou com foco voltado para famílias com crianças em acolhimento, mas atualmente recebe famílias em geral e profissionais da rede de acolhimento, além de encaminhamentos de famílias que estão enfrentando dificuldades e potenciais problemas, justamente para evitar que o acolhimento seja necessário.
Por fim, a defensora pública disse que a ideia é que a Escola de Convivência se torne um projeto interinstitucional, com as visões de todas as instituições que integram a rede de proteção.
Defensora pública Daniele Bellettato Nesrala
O defensor público Heitor Teixeira Lanzillotta Baldez representou o corregedor-geral Frederico Saraiva. Defensor público da criança e adolescente, Heitor Baldez ressaltou que a atuação na área não é pautada principalmente em questões jurídicas, mas sim em situações fáticas.
“O principal é baseado no biônimo afetividade e capacidade protetiva, E é isso que a Escola de Convivência ensina e estimula”, disse.
Coordenadora da Defensoria Especializada dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes – Cível (DEDICA-Cível), a defensora pública Eden Mattar afirmou que a atuação na área exige “se despir das questões jurídicas, e se vestir do amor, da empatia e do olhar para a situação daquela pessoa”. Ela pontuou que mais importante é reestruturar as famílias, possibilitando a elas “condições para que olhem para si, reconheçam suas dificuldades e, principalmente, seus valores e potencialidades”.
A promotora de Justiça Matilde Fazendeiro Patente afirmou vibrar com o sucesso da Escola de Convivência e com as famílias alcançadas pela capacitação. Ela destacou a magnitude da iniciativa, que “deveria se tornar uma política pública”.
A diretora de Relações com os Sistemas de Garantia de Direitos e de Justiça, Maria Fernanda da Silva, representou a subsecretária de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania de Belo Horizonte, Daniele Carmona.
Ela observou que a Escola de Convivência complementa o trabalho realizado com as famílias nos territórios, nos CREAs, nos CRAs e nas unidades de acolhimento. “O fortalecimento dos vínculos familiares, que é o objetivo do curso, é premissa fundamental da política de assistência social, trabalhada em diferentes proteções, tanto na básica quanto na especial”, afirmou.
Representando Pollyanne de Souza Moura, coordenadora do Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes, Kely Cordeiro dos Santos ressaltou que a Escola de Convivência promove a união de todos os atores que compõem a rede de proteção de crianças e adolescentes, em prol do retorno e da reintegração familiar com a menor brevidade possível.
Depoimentos
Para Diane, 34 anos, o curso surgiu como uma oportunidade de oferecer melhores condições de vida aos seis filhos, cujas idades variam de 15 a dois anos. “Eu amo estudar e aprender. O curso tem me ensinado cada vez mais, o que é muito gratificante”, afirma. Com cinco das seis crianças institucionalizadas e uma aos cuidados da irmã, Diane acredita que conseguirá trazer todos seus filhos de volta para casa.
Diane recebe o certificado de conclusão do curso e mais confiança em ter os filhos com ela novamente
Evelyne Teixeira de Carvalho é coordenadora da Casa de Acolhimento Esperança IV. Para ela, a formação da Escola de Convivência possibilitou uma compreensão mais profunda das necessidades das famílias, além de aprimorar o acolhimento oferecido na unidade.
Evelyne Carvalho: “Os pais que estão passando por esse momento precisam ser fortalecidos nessa função protetiva. Que a gente possa trabalhar em parceria para conseguir o melhor para a criança que está acolhida, e também cuidar dessas famílias”
Camila e Eduardo fizeram o curso juntos. O casal tem três filhos criados e um neto. Chegaram à Escola de Convivência porque estão em processo de adoção de quatro crianças atualmente institucionalizadas. “A gente achava que sabia cuidar, nunca tivemos problema com nossos filhos. Mas aqui aprendemos a ter outra visão. Você aprende uma outra forma de cuidar, muito além do cuidado”, disseram.
Eduardo e Camila querem adotar quatro crianças
Adriana ficou curiosa com o curso. Convidou o esposo, Ronaldo, e as irmãs, Rosilene e Roseli, para participarem. Com os filhos já adultos, se surpreenderam com a “riqueza” do curso. Relataram ter aprendido a enxergar e a ouvir o outro e pretendem usar o conhecimento adquirido para ajudar outras pessoas.
Ronaldo, que trabalha no atendimento de emergência de toxicologia, diz ser muito frequente atender adolescentes. Ele conta que conheceu outras formas de abordar e interagir, o que vai ajudá-lo a conseguir ajudar de fato as pessoas que atende.
Ronaldo, Adriana e as irmãs Rosilene e Roseli
Sobre a Escola de Convivência Familiar
O projeto Escola de Convivência Familiar é uma iniciativa que tem como objetivo promover a capacitação de familiares, responsáveis e cuidadores a respeito do cuidado com crianças e adolescentes que estejam em situação de acolhimento institucional. A primeira turma foi formada em dezembro de 2023.
Novas turmas estão previstas para fevereiro de 2025, com inscrições já abertas. Pessoas interessadas em participar podem se informar e se inscrever clicando aqui.
A Escola de Convivência Familiar conta com a colaboração, por meio de um Acordo de Cooperação Técnica (ACT), do Museu dos Brinquedos e o Instituto Cultural Luiza de Azevedo Meyer para a promoção de atividades voltadas às crianças e adolescentes presentes durante os encontros. Há também no ACT uma parte dedicada à capacitação de profissionais das instituições de acolhimento institucional.
A iniciativa é uma realização da Coordenadoria Estratégica de Promoção e Defesa dos Direitos das Crianças e Adolescentes (Cededica/DPMG), junto da Coordenadoria de Projetos, Convênios e Parcerias (CooProC).